Coutinho: “Somos tratados como se estivéssemos errados”

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Poucos dias antes da morte do sogro, Augusto Coutinho concedeu essa bela entrevista â Folha de PE, que divulgo apenas agora para vocês:

PS: Não concordo quando ele diz que é uma PECHA ser de direita





Como se dá a distribuição de encantos do Governo para atrair aliados?
A distribuição é de ações, de atendimento nos ministérios para que os municípios possam ser beneficiados. Na verdade, existe, hoje, uma quebra completa do pacto federativo. Ou seja, o volume de recursos que fica nas mãos do Governo Federal é muito grande. E isso dá ao Governo um poder muito grande de barganha perante os políticos, de forma que tem como atender suas bases, trazer obras para seus prefeitos, já que os prefeitos só têm 5% da fatia do que é arrecadado no Brasil. Do resto, 25% ficam com Governo do Estado e 70% com o Governo Federal. Então, essa distorção, sem dúvida, se reflete na dependência do prefeito, do governador e, consequentemente, do legislador com o poder central.

Então, o Governo está assediando?
O Governo está assediando. Não tenho dúvidas. Essa questão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, é emblemática. Eu estava pensando: o que Índio da Costa (DEM) falava do PT, tratando de indutor de guerrilhas, acusando-o de ter ligação com as Farc e, hoje, ele está do lado do PT, porque o PSD é exatamente a ponte que tinha para botar o pé no PT. E as pessoas se esquecem. No final, a gente é que tem que estar se explicando para a população e para Imprensa, para as pessoas, porque a gente se mantém firme, respeitando o desejo do povo.

Incomoda? Quem se mantém na oposição virou vidraça? 
Isso é que é triste, que é ruim, que incomoda. Somos tratados como se nós é que estivéssemos errados, quando a gente está lutando para que a democracia, na sua plenitude, seja exercida. É muito ruim para o Brasil o desequilíbrio que estamos assistindo. E não foi isso que assistimos no resultado da eleição. Ou seja, quase a metade da população votou na oposição, ou votou contra o Governo. No Congresso, hoje, se fala que para cada deputado de oposição, existem quatro a cinco governistas, em média. É muito ruim assistir o Governo empurrar no Congresso Nacional goela abaixo ações que não são benéficas e que, muitas vezes, quem vai pagar essa conta é o próprio povo, através de déficit público, desvio de dinheiro.

O senhor sente preconceito contra quem se mantém na oposição, é isso?
É lógico. Começa a se dizer que a gente está na oposição porque não tem um discurso. Não é isso. Quem está indo para o Governo é porque quer ir para o Governo, quer ter as benesses que o Governo está oferecendo. Acho que a gente pode melhorar nossa unidade, isso tudo pode ser feito. Mas isso não é a justificativa para quem está indo para o Governo, não. Por exemplo, agora esse episódio de Kassab. Então, o cara tem a disfaçatez de dizer que o partido dele não é de direita, não é de esquerda, nem é de centro. Então, é de que? De oportunidade.
                                                  
André de Paula afirmou ser difícil fazer oposição ao Governo Eduardo Campos/PSB, porque acerta mais do que erra. Concorda com ele?
Estou tratando da questão do âmbito nacional, não é local. A questão de André é mais de projeto de partido. Não quero entrar no mérito de André e tenho certeza que ele é um político de grande espírito público. Veja, eu não vou ser hipócrita de dizer que o Governo em Pernambuco não é bem aprovado. Ele é bem aprovado. Mesmo sendo bem aprovado, é importante para o governador, para o povo, que se tenha oposição para questionar, para chamar atenção. E é isso que a gente precisa fazer e ter coragem de fazer. Então, o Governo Lula foi bem aprovado? Foi. Agora, por isso a gente não vai fazer oposição? Vai ver as coisas que estão sendo feitas agora e que vão repercutir daqui a cinco, dez anos e ficar calado? Isso não é espírito público.

E qual é o caminho para a oposição?
Primeiro, a gente tem de pensar, se aglutinar. Isso vai forçar que nós procuremos nos unir, porque nós temos divergências. Mas isso é uma coisa muito cíclica e ela pode mudar de um momento para outro. O problema todo é que, quando mudar, a maioria dos políticos também vai mudar para o Governo que estiver à época e é com isso que eu fico indignado. 

O patrocínio do governador Eduardo Campos (PSB) à indicação de André de Paula para desembarcar no PSD surpreendeu os democratas?
Não. O governador está cumprindo o papel dele. Nós fomos Governo e quando fomos teve muita gente que aderiu. Nosso Governo também não rejeitou apoio. E é natural que ele tenha interesse. André é um quadro diferenciado da política. 

Exatamente por André ser um quadro considerável, teme que os 18 prefeitos do DEM mudem para o PSD?
Conversei com André (ter­ça-feira). Aliás eu fui para o partido pelas mãos de André, em 1991, antes de ser candidato a vereador do Recife, em 1992. André era o presidente e me chamou. Era o partido mais difícil para se eleger, porque sempre foi forte. As pessoas podem achar que fui para o PFL pelas mãos de José Mendonça, mas, na época, não, já que ele nem tinha inserção no Recife. Eu fui por uma identidade com ele e com André. André que abonou minha ficha.  

Mas o que conversaram sobre os prefeitos? 
Eu tenho convicção de que André não vai usar dessa amizade partidária que ele construiu, nesses 32 anos no Democratas, para esvaziar o nosso partido e isso ele me disse. Nós estamos conversando com os prefeitos. Existem alguns que, numa situação dessa, falam em sair. A gente precisa mostrar que, na verdade, é uma grande aventura a quem vai disputar uma eleição, mudar de partido. O PSD não tem tempo de televisão, não tem fundo partidário, não tem nada.

Com a saída de André, restaram rumores, no bastidor, de que ele teria sido preterido dentro do DEM na eleição passada.
Ele diz que não tem, porque não existe. A minha candidatura a deputado federal foi legítima. Foi amadurecida, porque deveria ter acontecido há quatro anos. Ela foi construída por mim e, na verdade, durante todo o processo eleitoral, inclusive, nós nos ajudamos, eu, André e Mendonça Filho, porque a intenção era que chegássemos nós três e, lamentavelmente, não deu. A gente nunca imaginou que faria cinco, sempre trabalhou para fazer seis a sete. Se fizesse seis, André seria deputado. E houve, inclusive, muitos entendimentos de votos que eu poderia ter puxado para mim e foram destinados para ele. Uma coisa completamente leal e isso foi registrado por ele a mim e a Mendonça. André não teria porque ficar magoado.                                                        

Também sobraram do pleito de 2010, sinais de flerte entre o DEM e o PTB. O senador Armando Monteiro Neto (PTB) já disse ter bom trânsito com Mendonça. Mendonça também não nega conversar bem com ele. Gustavo Krause colocou que o DEM não pode descartar nenhuma hipótese. Uma delas seria uma aproximação com Armando?
Acho que nós podemos dialogar com Armando e com qualquer outro partido. Eu dialogo com o meu partido, inclusive, com o governador.  A conjuntura política é mutante, dinâmica, muito rápida. Eu acho que, desde que você construa alianças, não em troca de favores, mas em convergência de pensamentos, é legítimo. Armando militou conosco, como quase todos que estão hoje com Eduardo.

Marco Maciel poderia acompanhar André?
Não acredito nisso. O que acho engraçado é que está todo mundo (Jorge Bonhausen, Kátia Abreu...) saindo, e pior que quem vai continuar com a pecha de direita e que deu base ao Regime Militar somos nós. Quando, na verdade, eu estava engatinhando. Engraçado é que esse pessoal vai para o lado do Governo como é hoje o PP. Nós somos a direita e o PP é progressista. O PR é progressista, porque está do lado do Governo. Pelo amor de Deus! O PP e o PR foram exatamente as pessoas que reagiram à Aliança Democrática que foi construída no Brasil. Agora, esse pessoal é que está com Lula hoje.  

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