Do mundo não se leva nada/ Vamos sorrir e cantar

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um exercício sempre muito ilustrativo é inverter os papéis oposição/governo para saber como estariam reagindo os atores. 

Então o roteiro fictício é o seguinte. 

O presidente é Fernando Henrique Cardoso — Geraldo Alckmin ou Serra, tanto faz —, e a Caixa Econômico Federal enfia mais de R$ 700 milhões num banco privado, adquirindo parte de suas ações, mas não seu controle. A operação, naturalmente, interessa ao controlador da instituição — não por acaso, dono de uma emissora de televisão, desses que jamais seriam molestados pelo tal “controle social da mídia” que algum tucano tarado estaria querendo fazer.

Depois de uma exaustiva apuração da situação do banco, a CEF concluiu que era um negocião. Há quatro meses, o Banco Central deu sua bênção à operação. Há coisa de um mês, descobriu-se que o Panamericano havia maquiado suas contas. Mais ou menos nesse período, Silvio Santos, o controlador da instituição, manteve um encontro fora da agenda com o presidente Tucano, já alçado a controlador do Brasil. O escândalo vem à luz 10 dias depois da eleição —  com a vitória de um tucano, naturalmente.

Agora imaginem
 
O que o PT estaria dizendo a esta altura? Procuradores fariam fila para ver quem  meter primeiro na cadeia. O noticiário seria invadido pelas suspeitas de fraude, conluio e compadrio. Mas o PT não está na oposição. E a pauta passa a ser esta: a CEF, gente, não foi lesada, tá? Silvio Santos é que está dando as garantias.
Não foi? Então leiam o que informa o Estadão Online:

“As ações da instituição já são negociadas abaixo do valor contábil diante da forte queda de quase 30% no pregão de hoje. A grosso modo, um banco vale menos que seu patrimônio quando o mercado desconfia de sua saúde financeira ou quando possui uma rentabilidade inferior aos custos de captação. Com base nas cotações de hoje, o valor de mercado do Panamericano gira em torno de R$ 1,167 bilhão. Para efeito de comparação, na abertura de capital da instituição, em dezembro de 2007, o banco foi avaliado em quase R$ 2,5 bilhões. Na BM&FBovespa, os papéis do banco fecharam em queda de 29,54% a R$ 4,77, abaixo dos R$ 5,61 declarados no patrimônio líquido do segundo trimestre deste ano. Para efeito de comparação, as ações de grandes bancos privados, como Itaú Unibanco e Bradesco, são negociadas a quase 300% acima do valor registrado no balanço.”

Eis um negocião feito pela Caixa Econômica Federal!

O mais curioso é que lemos também que a Caixa pode recorrer à Justiça contra o Panamericano. Certo! O BC vai apurar as responsabilidades dos dirigentes do banco. É uma obrigação. Mas eu tenho uma questão: e quem vai apurar as responsabilidades da CEF nesse péssimo negócio? A instituição meteu mais de R$ 700 milhões numa fraude. 

É o que eu sempre digo: ninguém privatiza recursos públicos como o PT. A privatização tucana era assim: o empreendedor privado ficava com a estatal — na verdade, com parte das ações — e pagava uma bolada ao poder público. No petismo, é o contrário: o poder público paga uma bolada para instituições privadas, não controla o negócio e ainda toma na cabeça. A privatização tucana dividia com todos os brasileiros o lucro — na forma de mais telefones, de mais empregos e investimentos etc. A privatização petista divide com todo mundo o prejuízo

Como diria Silvio Santos,

“do mundo não se leva nada/
vamos sorrir e cantar/
lá, lá, rá, rá/
lá, lá, rá, rá…

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